Visitas da Dy

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ondas



Bateram na areia
As ondas em desatino
Levaram com elas
As linhas do meu destino
Jogaram-se violentas
Nos pés de um penhasco
Desejavam ser sentidas
Ao contrário, sequer foram percebidas
Fizeram-se espuma
As desesperadas ondas
Queriam ser notadas
Foram, por um minuto, admiradas
Como se pareciam com um véu rendado,
Sob o luar frio de um feriado!
Mas ainda assim passaram
Sem ter o que buscavam.
Eu estava longe das ondas, mas as via
Ali, encolhida na areia,
Em silêncio eu as entendia.
O vai e em do mar me assusta:
Essa busca incessante me faz tremer.
Deve ser porque as ondas e eu
Somos feitas das mesmas coisas:
Água, sal, busca, sonhos.
Nós nos entendemos
Porque todos os dias
Em nosso caminho
Brincamos de vai e vem
Sonhando com algo que esperamos
E nunca vem...

Tambor




Esticaram a pele cuidadosamente
Curtiram-na no calor do sol
Prenderam-na nas bordas
E deram o primeiro som
Como um surdo que cadencia
Um samba alegra.
O resto animou-se ao som das liras,
A mesma feita das tripas,
Quando nada mais restava ao coração.
Como aquele tambor recém-feito
Pôs-se a bater o meu peito
Vai no compasso de seu passo
Segue o ritmo que os olhos ditam
Quando veem você se aproximar
Meu coração é tambor.
Pobre dele!
Ai, de mim!
Se me passas e não olha: quanta dor!
Mas se volta e sorri,
Meu samba da vida
Se abre em flor!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Postal




Cheguei cansada dos trabalhos feitos no dia. Talvez mais cansada que o de costume. Heranças de noites passadas e mal dormidas.
No meu rosto, uma expressão cansada, pesada, quase desaminada se completava com um bocejo enorme, daqueles que não se pode conter.
"Tem um postal pra você, mocinha!" falou entre um sorriso o meu porteiro, sempre bem humorado.
"Jura?!" Eu duvidava. Esperei ansiosamente pelo papel, que eu já sabia vir de algum canto da França, já que nunca sei os nomes dos lugares e as suas regiões geográficas - besteiras pra quem é historiadora e lida com nomes, datas, lugares e regiões o tempo todo.
Meu postal era lindo, é lindo! Ville de Sete, é o porto que está estampado, com uma embarcação bem colorida, onde se acredita, segundo o meu remetente, ter sido o ponto de partida dos cruzados.
Fechei os olhos, segurei firme meu cartão ainda no elevador e senti o cheiro de sal, gosto de mar na boca, que se sente quando se está num porto. Dei um pulinho ali no velho mundo, subi na embarcação colorida, com o mesmo nome da cidade, saudei meu remetente, que mais que um postal, naquela noite me forneceu um passaporte para navegar no Mediterrâneo, entrei em casa, meti-me nos pijamas e fui para a cama, às sete da noite - qualquer semelhança com o nome do porto é coisa da cabeça de quem está lendo - e dormi tranquila, como se estivesse, de fato, naquela embarcação, sendo embalada pelas ondas mediterrâneas.
As coisas simples da vida, como receber um postal, realmente me fazem compreender que a felicidade é um amarrado de momentos singelos, que encontramos por aí, com Guimarães Rosa, nas horinhas de descuido.

*** Para o Matias, que me deu uma enorme alegria com um simples postal! ***

Mar de Chateação




Eu tenho as melhores companhias do mundo.
Ao meu lado tenho amigos queridos, pessoas inteligentes, que não me cansam, não me entediam e me dão muitos momentos de alegrias.
É fato que tenho me entediado um pouco - ou muito - com as pessoas, o que me leva a fazer a famosa pergunta que todos nós já nos fizemos: "Mas que raios estou eu fazendo nesse lugar?".
Pode ser que eu esteja só imersa num grau de exigência cada vez maior, querendo extrair o melhor de cada pessoa e, se uma delas não consegue me doar algo que eu ache suficientemente bom, entedio-me rapidamente.
Pode ser que eu tenha só me acostumado com o jeito e as manias e as personalidades de meus velhos e bons amigos, colocando a placa "NÃO HÁ VAGAS PARA NOVOS AMIGOS" bem na minha testa e, por isso, refuto logo qualquer neófito que tente se lançar na empreitada.
Pode ser só um período de quase esquizofrenia, no qual não quero, por nenhum motivo específico, me relacionar com essas pessoas que me parecem, não chatas, mas tediosas, me entendam.
É como se elas fossem aquelas reprises de filmes  conhecidos que passam na TV, à tarde, e que em certo momento até topamos ver de novo, mas que nos deixam entediados com a frequência que passam e por não acrescentar nada.
Exigência, esquizofrenia ou momento "don't disturb", o fato é que estou entediada e nem meu café num lugar desses bem charmoso tem resolvido.
Preciso logo prestar mais atenção às coisas simples da vida: elas hão de me salvar desse enorme mar de chateação...

Realidade Virtual




Convivo com pessoas que não despertam minha atenção.
Despeço-me de pessoas que são muito queridas.
Na roda da vida, que gira e gira,
Esmagam-me os sentimentos,
Dilaceram-me os sentidos.
Pouco se importam com o que se passa aqui dentro.
Pouco se importam se essas peças que vão e vem
Fazem, no conjunto de minha obra,
O mosaico mais bonito, daqueles que lembram Gaudí.
Nessa correria acinzentada que nos forçamos,
Todos os dias, a correr
Deixamos muito de nós para trás
E já não conseguimos nos (re)fazer.
É um movimento contínuo,
Injusto,
Infame!
Nos faz perder de vista quem nos coloria os olhos
Nos faz olhar constantemente
Para muros beges e marrons
Pichados de preto.

(-Seria isso um luto velado?
O nosso próprio luto,
Do qual sequer damos conta?)

Seguimos nossos caminhos nas distancias geográficas
Diminuídas pelas palavras que já não voam mais.
Não carregam mais nosso traço próprio,
A nossa caligrafia mudou:
Agora chama-se "times new roman"
Ou com um pouco de sorte "arial".

(Em tamanho 12, por favor,
Os olhos já estão cansados,
Precisam de letras maiores)

Nossas palavras agora percorrem mais distâncias
Em tempos menores:
Estamos na era digital!
Nos transformamos num emaranhado louco
De zeros-e-uns, o tal binário,
Tudo isso pra estar onde gostaríamos e não podemos.
Tudo isso graças à tecnologia,
Nosso orgulho,
Nossa sorte,
Nossa aventura para nos superar,
Nossa desventura em nos separar.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Incerteza




Era inverno e o sol teimava:
Aparecia só pelo prazer de aquecer os corações.
Era uma manhã como todas as outras,
Já dourada.
Os dias seguiam como todos os outros
E por mais que ninguém entendesse,
Aquelas vidas tinham uma dinâmica própria:
Eram almas companheiras,
De caminhos, de vidas, de amores,
Por mais que isso lhes causasse dores,
Não sabiam mais se separar.
Por mais incerto que o destino fosse,
Que ninguém os perguntasse,
Por mais que não quisessem,
Os olhos dela brilhariam todos os dias
Ao ouvir a canção que embalava sua história
Todos os dias ela teria uma alegria febril,
Dessas de arder o sorriso e o coração
Por mais que soubesse que a alegria era incerta
Mas era bem melhor deixar dessa forma
Era bem melhor deixar que o dia seguisse seu caminho,
Que a vida levasse seu rumo para o além-mar,
Para o além dos sonhos e das compreensões dos comuns
Era com olhos de maio que ela via o futuro:
Como quem espera o outono passar,
O frio esquentar para a primavera chegar,
Porque as novas flores, as novas cores,
Mais uma vez trariam as certezas incertas
De que esse era o melhor ritmo que poderiam ter.

Sonho de Ícaro




Eu que busquei tantas vezes um lugar só meu
Agora acho todos os espaços vãos,
Ocos, mudos, surdos.
Muito espaço, pouco abraço.
Eu que quis asas
Não sei agora pra onde voar
Parecia mais perto quando era distante
Era longe do meu lado
A linha do horizonte nunca se aproxima,
Brinca diante de nossos olhos e não se deixa alcançar
Por mais que eu tente, até ela não consigo chegar.
Logo eu que sonhava  com a liberdade,
Agora caminho por aí, descuidada,
Largada aos quatro cantos do vento,
Como poeira dançarina na luz do sol:
Sem rumo, sem direção, mas leve.

Raio de Luz



A partícula de poeira voa.
Dança a bailarina quase invisível.
Perde-se no vento,
Faz rodopios no ar.
Quando menos se espera ela é vista:
Foi pega num raio de luz.
Agora, comparo-me a ela:
Canto, danço, escrevo, vivo,
(Quase invisível)
Perco-me em pensamentos:
O mundo não me vê,
(--- será?---)
Mas eu o vejo e estranho:
Até parece que não sou daqui...
Até parece um teatro

(Mas não sou boa atriz)

As cortinas irão se abrir...
As cortinas irão se fechar...
E serei pega num raio de luz.
Aplausos para mim!

- Bravo! Ela era quase invisível,
Mas soube viver!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Ah, Minas Gerais




Enquanto vejo versos e prosas que falam sobre as Minas, sobre as minhas Minas Gerais, invejo-os como invejo a cantora de jazz e blues que tem nos cabelos uma flor tão vermelha quanto o batom e o coração. Invejo os versos e as prosas e penso que um dia saberei escrever o que é ser mineira, como é viver longe das montanhas que conheço e amo, como é não querer voltar, mas morrer de vontade de estar nelas... todos os dias.

Na verdade, acho que deve ser o fato de ter nascido nas montanhas mais lindas do mundo que conseguem carregar as quatro estações num único dia, que me dá esse sentimento incontido que transborda do coração e enche a alma com vontade de lutar mais e melhor a cada amanhecer.
Deve ser porque aqui do alto de um morro vejo o mar bem longe, como uma linha azul marinho que se mistura com o meu tão conhecido azul celeste rabiscado de manchas brancas densas e leves ao mesmo tempo dos céus que me guardam os pensamentos. Daqui do alto eles parecem se fundir no horizonte, talvez um Belo Horizonte, lugar para o qual não quero mais voltar porque foi lá, vendo uma lua numa madrugada fria que senti, de verdade, o que era estar sozinha no meio de milhões de pessoas e possibilidades. Eram quatro da manhã, outono, devia ser maio ou junho e tive vontade de escrever.
Troco qualquer horizonte belo, por mais planejado que seja pela confusão de meio-dia ou das seis da tarde que carrega esse bandeirinha, esse Juiz de Fora, que sempre participa do jogo, do meu jogo da vida.
Foi nascer nessas montanhas que  me fez sentir rio, ou o Rio, que nasce no alto e que deságua no mar. Cabeça de lua, de sol, que girassol!, e que não pensa em voltar, até o dia que volta, que sobe a serra, que vê o entorno e se entende parte dessa maravilha, e deseja voltar mais e mais, num movimento indeciso como o das ondas do mar: que sempre vai e volta por não saber se quer ir e ficar ou ir e vir sempre, coisa de quem carrega a insatisfação no coração, ou seria isso uma grande satisfação? (a de manter-se satisfeita só quando se está no caminho) 
Ir e vir é magia, é descobrir caminho, é se feliz na chegada, mesmo passando pelo aperto da despedida, porque entendo bem que a chegada é sempre partida de um lugar. Sei que dói partir, sei a alegria de chegar, sei bem o que é o medo de ir embora, a vontade de segurar uma mão ou de ter uma que me segure...
Acho que ter nascido nessas montanhas é o fato que me traz uma vontade danada de mudar o mundo só para ve-las melhor, mas que ao mesmo tempo dá aquela pontinha de desânimo porque  o mundo parece não querer ser mudado, mas aí eu desperto da apatia, passo a sonhar acordada e visto a camisa com a minha bandeira, marcada com o mesmo vermelho que trago nos cabelos, respiro fundo e luto mais uma vez, se não pelo bem maior que busco nessas manhãs, pelo meu próprio bem, que seja! Pois há quem se alegre com a minha própria alegria, há quem se sinta leve com a minha própria leveza.
Ser mineiro é ter um sotaque bunitim, que não se encontra em qualquer canto. É economizar palavras, mas nunca sentimento. É saber derreter qualquer um com um sorriso de canto de boca, conhecer os causos do matuto e saber, mais que ninguém, ganhar esse mundo!


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sem Pressa




Calma, criança!
Não é o fim do feriado!
Nem tão pouco o último fim de semana.
Ainda teremos sorvete no freezer ,
Pipas pelos ares
E músicas nos realejos

Ah, sim, os realejos não fazem parte de seus dias...

Por que tanta pressa pra viver?
Os dias são longos...
Há ainda muito poema pra se escrever.
Deixa eu pegar os meus óculos e ler um livro pra você!
Dá tempo de cantarolarmos mais uma canção.

Não busque o tempo certo das coisas.
Não há o certo
E talvez nem haja o tempo.
Esse tica-tac que se ouve é só o som da máquina
Da nossa escravidão em nós mesmo
Das amarras que criamos para a nossa pressa.
Colocamos prazo de validade nos nossos sonhos
E eles se desfazem.
Não há tempo de ser feliz.
Isso não é agendável
Acontece
Principalmente quando se trata de pessoas como eu
E como outras tantas, talvez até você, quando crescer!
Somos do tipo avoadas,
Apaixonadas pelo vento
Instáveis.
À nossa maneira vamos levando os dias
Sem pressa, sem correria
O que vier é sempre novidade
É sempre mais uma possibilidade
É assim que se caminha
É assim que eu vejo o mundo
É assim que estruturo a minha vida
Sem contar os dias
Sem contar as horas
Sem esperar pelo que vem
Porque o futuro sempre chega
Se transformando em presente,
Sempre presente.

Café com Tristeza




E como quem não quer nada,
Irá me convidar para um café.
Aceitarei feliz.
Alegro-me com seus convites.
Por mais que saiba que dali sairão palavras de despedidas,
Que irei sofrer, eu vou!

(Mas não chorarei na sua frente!)

Tomarei um chá bem quente
Para queimar a língua e as palavras
Todas aquelas que não terei coragem de dizer
E as engolirei, quase sufocada.

Ao final de quarenta minutos vai pegar nas minhas mãos.
Vai dizer que sente muito, mas que o caminho é longo.
Vai pegar seu guarda-chuva.

Vou te imaginar com um chapéu,
Só pra despedida ficar mais charmosa,
Menos dolorosa.

Vamos nos olhar e você vai sair.
E eu...

Bem... 

Eu vou continuar ali,
Com meu café
E minha tristeza.

Claridade




Eu não quero cruzar estradas
Voltar a morar nas montanhas
Ou ficar pra sempre à beira do mar.
Não vou migrar para outras terras
Ou deixar meu barco à deriva.
Nada disso adiantaria.
Nada disso me traria o brilho no olhar.
Aquilo que se apaga uma vez, não volta.
O fio implacável de suas palavras chegou a mim
Cortou-me, separou-me do brilho que eu tinha
Tirando-me a luz, restou-me o escuro.
Agora, por onde quer que eu vá
Só vagarei, não enxergando nada além de vultos
Porque a claridade se desfez em névoa.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Estou Feliz e Dói




Lança-se intrépida no desconhecido.
– Já vez as malas? (Eu pergunto)
Vai que o mundo é um gigante
E nessa história a gente quase nunca tira o pé do chão.
Sobe na pedra mais alta e salta,
Abre os braços pra sentir o vento,
Fecha os olhos para ver melhor:
Algumas coisas a gente só vê de olhos fechados,
Que é pra ver com o coração.
Dá um grito de felicidade:
Ele vai acordar o sol,
Trazer o novo dia, a nova aurora,
A nova (V)ida.
Lança-se intrépida pela estrada,
Que nosso descaminho é passageiro:
São novos rumos e destinos,
Novos mapas a serem descobertos.
Vai, menina, vai buscar seu ninho,
Vai traçar o seu futuro,
Que o presente já é seu:
Veio embrulhado em vermelho,
Pega sua bolsa, me dá o meu abraço.
Segue nessa trilha, sem nenhum embaraço,
Segue adiante, lute, se esforce,
Anda depressa e sem olhar pra trás
Que daqui a pouco, pelas águas dos meus olhos,
Estarei em desalinho,
Vendo sua sombra encolher,
Junto às margens do caminho.