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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Guardião


(Foto: Saulo Otoni - São João Del Rei - MG)

Ao final dos cansados dias, semente.
Não sei se há o descanso somente.
Talvez haja ainda caminhadas, idas.
(Talvez estradas mortas não sejam findas.)
Creio mais em brotamentos:
Plantados somos (re)nascimentos.
E o que parece fim é começo.
E o que interrompe não rompe.
E o que cala não emudece.
Quando só há respirações adormecidas
Despe-se do negro, do peso
Aceita o branco, a leveza.
Ao seu (eterno) sossego o mármore dará guarida.
Será, para uns, caixa de tesouros.
Para outros, porta joias de agouros.
Ficarão guardadas ali lágrimas e histórias
(Representarão afagos e memórias)
E eu, caminhante entre as pedras de outrora,
Perco-me entre frestas ou fechaduras
E quase toco o silêncio que vejo.
Um anjo pousou no tempo...
Está ali por saudade, por arte
Ou brinca, imóvel, de eternidade?
Sei que segura, pra sempre, um pedido reles:
Orai por eles.
(Eles) sofrem de dores longes de consolos.
Sinto-me fora desse desejo, das orações:
Sou alheio a essas devoções.
O anjo contempla o que não vejo.
O anjo sente o que só imagino.
O anjo acolhe tudo o que o cerca:
Letras, lápides, ais.
A ele cabem os abandonos e desistências
Os esquecimentos, as clemências.
Fosse eu aquele anjo e desceria do posto
Ofereceria os braços em conforto.
Fosse eu o guardião dos sonhos esfriados,
Cederia pedaços dos meus,
Deixando intactos os nós que ali se desfizeram.
Fosse eu aquele anjo e evitaria as tristezas
Buscaria o encantamento longe das melancolias
Experimentaria o gosto de paz dos sorrisos
E o perfume das flores que ali jazem,
Sinalizando o fim de si e dos corpos,
Jamais sairiam dos campos.
Fosse eu aquele anjo, viraria vento:

Rejeitaria ser guardião de lamentos.

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