Visitas da Dy

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Planos de Papel




No quase frio do quase fim de tarde, os corpos se aproximaram mais do que pelas palavras. Era um consenso que as palavras os havia acorrentado. Coisa desses poderes mágicos das conversas-correntes que nos prendem pelos calcanhares dos interesses mútuos ou nos mistérios a serem descobertos no oposto lado de quem fala.
Eram palavras pouco desenhadas, de uma correria interrompida pela cerveja-pausa do botequim da esquina. Eram palavras de amenidades, perfumarias e bocas, beijos, mãos, abraços.
Ninguém sabe dizer quando tudo ficou tão próximo. Ninguém sabe explicar um endereço indo visitar o outro. Do mesmo jeito que ninguém percebeu o vinho, o cobertor e a imediata vontade de prolongar a noite eternamente até o enjoo ou até o engodo.
Das velozes palavras ao envolvente conforto das pernas entrelaçadas, do querer estar-ficar-e-partir aos obrigados silêncios pontualmente colocados nos horários comerciais da cidade, das promessas de "em breve", de "quem sabe" e planos de papel aos goles de mágoas e adeuses não ditos se não pelas bocas distantes e caladas, caiu a frente fria. Podia ser da estação, mas era verão. Era um frio de coração, um frio de gelar esperanças, congelar sonhos, derreter pelo rosto, dissolver os papéis dos planos.
Agora eram palavras ecoando na memória, mas não tinham sequer a mesma voz. Estava sendo esquecida, assim como o rosto, o sorriso e aquele último toque (despercebido?).

Era o golpe dado das palavras que, emaranhadas, ofuscaram as reais velocidades do que estava posto. Não chegou a ser engodo. Desatenção ou descuidado. Brevidade na melhor das hipóteses. Desilusão nas longas noites até o esquecimento.

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