Visitas da Dy

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Curvas




Não foi à toa que dobramos aquela esquina.
Entre as nossas curvas, tagenciamos desejos.
E, na distância de um ponto e outro,
Encurtei os vãos.
Presentes. Surpresa boba no canto da boca.
Sons tantos e palavras várias,
Onde estavam os sentidos?
Engolidos.
Saltaram da borda do copo.
Bebidos.
Quase embriagados.
E cruzaram-se os dedos.
(A fé infantil, crença na torcida sincera)
E cruzaram-se os destinos.
(Teriam culpas as pernas?
Foram elas que as chaves giraram?
Foram elas que os caminhos encurtaram?
Foram elas que se embolara!)
E, ao sol da meia-noite, queimamos.
E, apenumbrados, só os olhos brilharam.
Mais do que palavras, toques.
Cruzaram-se os destinos
E nenhuma margem nos coube.
Nenhum sono decretou-se.
Acordamos o dia à meia-noite
Porque a madrugada não nos cabia
E aceitou o seu fim resiliente:
Nenhum deserto é imune às caravanas.
Nenhum oásis míngua sem visitante.
Nenhum sol desperta sem razão,
Há de se saber apenas domar o tempo perdido,
Rejeitar os nãos.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Vela acesa




Meu universo, infinito, se divide, simples:
Parte é o amor que sinto,
Outra, é o amor que crio.
Os dois nasceram em mim.
De mim.
Consomem-me como chama.
O amor é vela acesa:
Aquece e ilumina e,
No tempo de uma vida,
quase finda, sabe-se eterno.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

A Casa




Faltava a casa. Não uma construção, paredes, quadros, mobílias, fotografias. Isso existia. Faltava o sentimento de autenticidade, o reconhecer-se parte de tudo aquilo. Faltava a integração. Faltava um calor, acolhimento, fortaleza.
Faltava tanto que a boca chegava a amargar memórias inventadas de um além-limites no qual, agora, estava em imersão.
Em certa medida, queria voltar ao passado, mas esse, só era conhecido de maneira muito vaga, pelo inconsciente, através de seus efeitos de torpor, nos minutos antecedentes ao sono, tangentes ao delírio, à invenção e aos desejos mais puros (originais, não virginais).
Buscava um refúgio na linguagem, em símbolos e códigos que pudesse usar para transportar-se para um lugar seu, de fato e de direito. E essas construções nada tinham de magníficas. Não chegavam a ser castelos, nem paisagens elaboradas. Reinava a simplicidade. A insustentável beleza do vento. A paz carregada na asa de uma borboleta. O som do amado-passarinho em cantos de entardecer.
(D)escrevia, de certo modo, uma floresta de significados próprios, cruzamentos de vontades, esquadrinhamentos das constelações que eram seus pensamentos e, como navegante interestelar, sentia-se finalmente em casa.

Não dominava um estilo. Não dominava a si. Não tinha intenções tão grandiosas. Apenas buscava o movimento de existir junto a algo mais, algo no qual pudesse ser parte e isso estava além da casa, além do tempo. Estava, em verdade, atrelado à busca. E era isso: a casa só passava a existir pelo único propósito da procura. No mais, tudo era espera. Tudo era um eterno pairar sobe o tempo, enquanto esse passava ligeiro como um rio, rumando para as outras tantas casas que também só existiam para seus donos enquanto uma viagem em um contexto quase filosófico da escrita, uma poesia desprendida de sentido, apegada apenas à leveza do bem-querer.